sábado, 5 de outubro de 2013

Plínio Marcos

Hoje fico surpreso ao notar que minhas pesquisas sobre Plínio Marcos e o cinema brasileiro se arrastaram, de certo modo, por quase dez anos. Ela começou ainda na monografia de conclusão da graduação em cinema, sobre as refilmagens no cinema brasileiro dos anos 1990, na qual um dos capítulos comparava as duas adaptações da peça de "Navalha na carne", o filme de Braz Chediak de 1970 e o de Neville D'Almeida de 1997. Esse capítulo da monografia apresentada em 2002 acabou sendo reescrito e publicado como o artigo "O silêncio (e as canções) que precede(m) o esporro" (Cinemais: revista de cinema mais outras questões audiovisuais, Rio de Janeiro: Aeroplano, n.38, jan-mar 2005, p. 8-41). Infelizmente a finada revista Cinemais nunca foi digitalizada e nem está na internet.

Além de fazer parte do meu projeto experimental de conclusão de curso, essa pesquisa inicial serviu para preparar meu projeto de mestrado na UFF, com o título "O teatro de Plínio Marcos e o cinema: amor e ódio", selecionado no final de 2004. Ao longo de dois anos, escrevi a dissertação de 500 páginas (!), intitulada "Atalhos e quebradas: Plínio Marcos no cinema brasileiro". Nesse texto, eu iniciava com uma introdução sobre os conceitos da adaptação. O primeiro capítulo era uma síntese biográfica sobre Plínio Marcos (não havia então nenhuma biografia publicada sobre ele). O segundo capítulo era sobre as relações entre teatro e cinema no Brasil e, então, seguiam-se capítulos sobre os filmes A navalha na carne (dir. Braz Chediak, 1970), Dois perdidos numa noite suja (1971, dir. Braz Chediak), Nenê Bandalho (dir. Emilio Fontana, 1971), A rainha diaba (dir. Antônio Carlos Fontoura, 1974), Barra pesada (dir. Reginaldo Farias, 1977). O último capítulo refletia conjuntamente sobre uma “retomada” de Plínio Marcos pelo cinema brasileiro a partir da década de 1990 com as adaptações Barrela: escola de crimes (dir. Marco Antônio Cury, 1994), Navalha na carne (dir. Neville D’Almeida, 1997) e Dois perdidos numa noite suja (dir. José Joffily, 2003).
A dissertação foi muito bem recebida e pode ser baixada aqui.

Após a defesa, elaborei um projeto para a realização de uma mostra de cinema sobre o tema da minha pesquisa, que foi realizada em fevereiro 2008 na Caixa Cultural. Como curador e produtor da mostra "Navalha na tela: Plínio Marcos e o cinema brasileiro", decidi revisar e expandir minha dissertação para publicá-la como "catálogo" da mostra. Certamente esse foi um dos eventos cinematográficos cariocas pioneiros na transformação do catálogo em um verdadeiro livro, com ISBN, ficha catalográfica e tudo o mais. Nessa revisão, cortei a parte teórica e contextual do início da dissertação, além de um trecho interessante no qual eu analisava as características da obra teatral e literária de Plínio Marcos. Por outro lado, revisei e expandi a pesquisa, criando novos capítulos para os filmes mais recentes, que receberam análises mais detidas, incluindo Querô (dir. Carlos Cortez, 2007), lançado após eu ter defendido minha dissertação. A programação da mostra, que contou com três debates e uma homenagem histórica, pode ser vista aqui.

Do livro "Navalha na tela: Plínio Marcos e o cinema brasileiro" foram impressos 700 exemplares distribuídos gratuitamente aos espectadores da mostra, além de doados para bibliotecas, cinematecas e universidades de todo o Brasil. Por questões contratuais, o livro não podia ser comercializado, embora hoje possa ser encontrado em sebos.

Além desse livro, a pesquisa da dissertação resultou em outros textos. A parte da contextualização histórica da relação entre teatro e cinema brasileiros (relativamente fraca, vista dos dias de hoje) virou um artigo para a revista virtual Moviola "O theatro e o cinematographo", em junho de 2008, podendo ser vista aqui.

Já a parte teórica sobre adaptações cinematográficas resultou num artigo acadêmico escrito junto com o meu colega de pós-graduação, hoje professor da UFPB, Marcel Vieira Barreto Silva, intitulado "Sobre uma sociologia da adaptação fílmica: um ensaio de método", publicado na revista Crítica cultural, da Universidade do Sul de Santa Catarina (v. 2, n.2, jul/dez. 2007). 

Eu explorei esse mesmo tema num artigo para a mostra "Memórias cinematográficas de Machado de Assis", do amigo Eduardo Ades, realizada na Caixa Cultural em 2008, intitulado "Machado de Assis no reino das adaptações" (o site do evento está temporariamente fora do ar).

Além de artigos especificamente sobre algumas das adaptações estudadas e seus realizadores (Emílio Fontana, Jece Valadão etc.), a pesquisa sobre Plínio Marcos resultou em três artigos que expandiam algumas das questões tratadas na dissertação e no livro da mostra.

Um deles, que eu gosto muito até hoje, é "Plínio Marcos e Ozualdo Candeias: marginal e maldito", no qual eu traço relações entre o "autor maldito" e o cineasta consagrado pelo filme A margem (1967), um dos marcos do chamado cinema marginal. Esse artigo foi publicado no livro Estudos de Cinema Socine. São Paulo: Annablume: Socine, 2007, que recebeu uma segunda edição digital que pode ser vista aqui.

O segundo artigo é “Na minha vida mando eu”: o estereótipo do homossexual masculino nos filmes A navalha na carne (1969) e A Rainha Diaba (1974), publicado na Revista Galáxia, PUC-SP, em 2009. Nesse texto eu trato mais especificamente dos personagens Veludo e Diaba desses dois filmes, trazendo uma leitura informada por Robert Stam, Ella Shohat, Richard Dyer, entre outros teóricos. Na verdade, o artigo foi o trabalho final de uma disciplina cursada em meu doutorado e baseada no livro "Crítica à imagem eurocêntrica".

O terceiro artigo é "Esqueceram de alguém nos quarenta anos de 1968: Plínio Marcos no teatro e no cinema, ontem e hoje", publicado na revista da UNESP, Baleia na Rede, em 2009.

Depois da realização da mostra "Navalha na tela: Plínio Marcos e o cinema brasileiro", eu ainda sentia que havia questões a expandir no texto que havia sido publicado, inclusive por muito do que foi dito nos debates organizados para o evento, como o que reuniu o elenco original da primeira montagem de Navalha na carne, os atores Nelson Xavier, Emiliano Queiroz e Tonia Carrero. Além disso, havia encontrado novos materiais de pesquisa, como os documentos sobre Plínio no DOPS do Rio, no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Por fim, havia ainda a publicação de "Bendito Maldito: uma biografia de Plínio Marcos", escrita por Oswaldo Mendes, que tinha usado muito do que eu escrevera no "Navalha na tela", mas expandira muito mais o conhecimento sobre a vida do autor.

Por esses motivos e pelo fato do catálogo da mostra na Caixa Cultural ter sua circulação limitada, resolvi fazer uma terceira e última versão da pesquisa. Essa versão foi intitulada "Incomodando quem está sossegado: a obra de Plínio Marcos no teatro, literatura e cinema", sendo publicada em 2011 pela editora Multifoco com pouquíssimos exemplares. Apesar de poder ser vendida livremente, inclusive pela internet, o livro encontrou uma difusão muito mais restrita do que a dissertação e até mesmo do que o catálogo da Caixa Cultural. De qualquer modo, com esse trabalho eu finalmente pude por um ponto final nessa longa pesquisa sobre a fascinante obra do autor santista.  

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